quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Profissão Biólogo: Gestor de Instituto de Pesquisa

A contribuição de um biólogo, ou qualquer outro pesquisador/professor, em um centro de pesquisa, seja dentro de uma universidade ou um instituto, pode (e deve) ir muito além de simplesmente desenvolver sua pesquisa. É comum encontrarmos pesquisadores que além de suas pesquisas viram gestores como coordenadores de congressos, chefes de departamentos de pesquisas, coordenadores de programas de pós-graduação e até reitores de universidades.

Não é um trabalho fácil: além da dupla jornada e de ter que abrir mão de boa parte da pesquisa para lidar com assuntos como gestão de orçamentos, finanças e planejamento, esses pesquisadores são obrigados a enfrentar as famosas “buchas” que caem em sua mesa. No entanto o esforço é recompensado pelas melhorias que proporcionam e a visão desenvolvida pelo fato de sair um pouco do mundinho da pesquisa são lições que nunca se esquece.

Foi exatamente isso que aconteceu com a Ana Eugênia Campos, bióloga, especialista em pragas urbanas, pesquisadora científica do Instituto Biológico (IB) em São Paulo. Ao conversar com o diretor do IB sobre a possibilidade de ser transferida para a unidade de Campinas foi convidada por ele a trabalhar por um tempo na gestão do instituto antes de se transferir. Apesar da falta que sente do laboratório para estudar “as formiguinhas”, área de pesquisa que atua, está há sete anos na gestão do instituto onde hoje é Assessora de Gestão Estratégica, e ao contar pelo seu entusiasmo quando fala sobre as melhorias proporcionadas pela gestão da qual faz parte, as formigas vão ter que esperar mais um pouco.

Uma das mais interessantes ações que esta gestão fez relaciona-se às análises quantitativas realizadas com respeito às pesquisas desenvolvidas dentro do IB, à prestação de serviços (diagnósticos realizados), treinamento de pessoal e projetos aprovados em agências de fomento. A partir disso, criaram-se indicadores a fim de serem estabelecidas metas tanto para o pesquisador, como para o centro de pesquisa e para todo o IB e premiações para aqueles que tiveram melhores resultados.(eg. número de publicações e projetos aprovados, entre outros). Tudo isso com uma equipe de outros assessores e é claro com o entusiasmo do diretor geral, Antonio Batista Filho, engenheiro agrônomo.

"Acredito que esse ótimo modelo de gestão, que mostrou excelentes resultados, ocorra devido a participação de uma equipe que promova uma transparência nas suas atividades demonstrando aonde se quer chegar", diz Ana. A visão multidisciplinar, apesar de difícil de ser implementada, é de extrema importância e a oportunidade de participar da gestão de uma Instituição de pesquisa nos tira de um mundo relativamente restrito, enquanto se está somente dentro do laboratório, para uma visão mais abrangente.

Em contrapartida a visão científica vinda de sua formação como bióloga foi um de seus trunfos: ao avaliar projetos de áreas diferentes, mesmo sem entender nada do assunto, poderia dar importantes contribuições à pesquisa analisando o delineamento experimental por exemplo e os impactos dos resultados a serem alcançados.

A combinação da visão única do biólogo sobre alguns temas (por exemplo delineamento experimental, ambiente e sustentabilidade) aliada ao conhecimento de algumas ferramentas administrativas, como no caso da Ana Eugênia Campos, faz desse um profissional diferenciado no mercado, que pode trazer importantes melhorias, não só para seu emprego, mas pro próprio ambiente de trabalho seja um instituto, departamento, programa de pós-graduação, empresa de consultoria, escolas, etc.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Profissão Biólogo: Designer Gráfico de Modelos Científico

“Se não achar um emprego que você goste, crie seu próprio emprego”. Essa máxima parece se encaixar perfeitamente para Victor Skrabe. Ele mesmo afirma que se houvesse alguma empresa na área, provavelmente ele estivesse trabalhando nela. Mas como não existia, ele tratou de criar a BIOSPHERA, empresa que desenvolve animações e softwares de computação gráfica voltados para ciência, principalmente medicina.

Embora no fim da graduação já ganhasse dinheiro desenvolvendo sites e animações, não via neste trabalho uma carreira, apenas um jeito de sobreviver enquanto não entrava na vida acadêmica. Ironicamente, foi quando desistiu de entrar num programa de pós-graduação, desmotivado pelo orientador, que enxergou que realmente aquela poderia ser sua profissão.

Somos criados num ensino onde o aprendemos quase que exclusivamente a reter conhecimento e não gera-lo. Dentro desse conceito o que importa é quanto você sabe sobre um determinado tema. Somos avaliados a partir da informação que conseguimos reter dos livros.

No empreendedorismo o que acontece é um pouco diferente: o conhecimento sozinho não é suficiente, é preciso saber onde aplica-lo. Talvez por isso seja difícil identificar pessoas, até nós mesmo, como empreendedores.

E foi exatamente isso que aconteceu com o Vitor durante sua monografia. Seu trabalho, uma animação da via metabólica glicólise, rendeu muitas discussões entre professores de graduação se poderia ou não ser aceito como um trabalho de Biologia.

Talvez esta tenha sido a primeira, mas não a única vez que Victor esbarrou com a falta de visão mercadológica dos biólogos. Ao tentar, no intuito de trocar experiências, contatar um dos poucos biólogos que desenvolve um trabalho parecido com o seu, porém dentro de uma universidade, não obteve resposta. Provavelmente o medo de trocar informações do seu trabalho antes de patenteá-lo afastou-o de Victor, que poderia ajudar mostrando uma visão do mercado: “Mais importante que desenvolver um produto e patenteá-lo é ver se existe mercado! Que adianta gastar tempo e dinheiro com um produto se não tem quem compre?”.

O altruísmo que demonstrou nesse caso mostra bem sua visão empreendedora: mas importante que reter a informação é compartilhar para se conseguir construir projetos melhores. É claro que todos querem ganhar dinheiro (mesmo não querendo você tem que pagar suas contas), mas podemos fazer isso de um jeito que todos ganhem. Isso é uma visão empreendedora, que muitas vezes falta no mundo acadêmico – quantas vezes, dentro de departamentos, projetos interessantes não foram pra frente por causa da falta de visão e egocentrismo dos professores/pesquisadores?

Em sete anos a BIOSPHERA já desenvolveu sites, animações e modelos 3D para grandes empresas e universidades como Bayer Schering Pharma, Hospital Albert Einstein, USP e UFSCar e atualmente está desenvolvendo softwares para venda direta, como o Célula Virtual 1.0, para auxiliar professores no ensino de citologia.

O diferencial da empresa está justamente no conhecimento que Victor adquiriu na faculdade de Biologia. Geralmente os clientes chegam a BIOSPHERA depois de enfrentarem uma verdadeira via cruci em outras empresas. Muitos desses clientes têm dificuldades em explicar com exatidão o que eles querem. Com um conhecimento mais apurado em fisiologia, por exemplo, Victor consegue entender e direcionar o foco do trabalho.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O boom populacional de doutores no Brasil

Hoje as universidades, mais do que formar profissionais para o mercado de trabalho, viraram um grande centro de formação de pesquisadores. Um estudo desenvolvido pelo Centro de Gestão de Estudo Estratégicos (CGEE)em 2010 mostra que o número de doutores entre 1996 e 2008 cresceu 278%. Esse aumento no número de pós-graduandos é importantíssimo para a pesquisa no Brasil, que no último ano passou a fazer parte do seleto grupo dos 20 países com maior número de publicações científicas.

Em diversas profissões uma pós-graduação, além da pesquisa pura, visa posicionar o profissional dentro de um determinado mercado, fazendo com que ele tenha um conhecimento maior em determinado assunto, ajudando-o a se inserir no mercado de trabalho.

Na biologia um curso de pós-graduação está ligado quase que exclusivamente a pesquisa científica. Isso pode ser evidenciado na proporção entre cursos lactu sensu e sensus stricto para biólogos. Embora eu não tenha um dado preciso, pelo menos nas grandes universidades de São Paulo posso afirmar que existem muito mais pós-graduação de biologia voltada para a pesquisa (strictu sensus – mestrado e doutorado) do que para sua aplicação no mercado de trabalho (lactu sensus – especialização e MBA).

Isso faz com que a pesquisa em biologia no Brasil seja muito bem conceituada: publicações em revistas respeitáveis, cursos de pós-graduações reconhecidos internacionalmente, pós-doutorados e parcerias com importantes universidades estrangeiras, congressos e simpósios com número expressivo de pesquisadores estrangeiro, etc.

Porém esse desenvolvimento da pesquisa, na biologia em especial, esconde um problema: pra onde vão tantos pós-graduandos?

Um exemplo: Na Universidade Federal de São Carlos temos 3 programas de pós graduação dentro da biologia. Em média temos uns 10 orientadores em cada programa. Agora vamos imaginar que no começo de um determinado ano para cada orientador ingressem um aluno de doutorado e 2 de mestrado (o que não é muito). São 90 pesquisadores que serão formados em apenas uma universidade! Apenas os que ingressaram em um ano! Será que o “mercado acadêmico” comporta tantos pesquisadores?

Muitas vezes pela falta de perspectiva e orientação de como ingressar no mercado de trabalho, o biólogo recém-formado se ilude com a facilidade de uma bolsa de pós-graduação, sem questionar aonde isso o vai levar. Isso só piora a situação: depois de 2 anos de mestrado e 4 de doutorado o biólogo acaba se encontrando num limbo – onde aplicar tanto conhecimento?

Uma boa iniciativa para a solução deste problema seria um maior envolvimento da iniciativa privada com as universidades, não apenas financiando, mas também direcionando o desenvolvimento de pesquisas e projetos em áreas estratégicas e assimilando esses futuros pesquisadores. Outra sugestão é os cursos de graduação em Biologia orientarem seus alunos sobre as diversas carreiras de um biólogo e fazendo-os enxergar que uma pós-graduação nem sempre os ajudará a arrumar um emprego.

Porque falar de Empreendedorismo pra Biólogos?

Pra responder essa pergunta, primeiro é preciso saber o que é ser empreendedor. Embora esse tema seja muito abordado, principalmente nas ciências administrativas, não existe um consenso na literatura sobre o que é empreendedorismo, isso porque esse ramo de estudo é relativamente novo. Além disso, empreendedorismo não deve ser tratado como uma ciência exata, com conceitos e formas definidas, em cada região e em cada época existe uma definição diferente.

Empreendedorismo pode ser definido como: “o envolvimento de pessoas e processos que transformam idéias em oportunidades”. Ou contextualizando para a falta de incentivos a formação e suporte a empresa no Brasil afirma a que “é a capacidade de criar algo a partir de muito pouco, ou quase nada”. Pode-se citar outras tantas definições, mas na maioria dos autores uma pessoa empreendedora é aquela visionária, proativa, criativa, com iniciativa e poder de tomada de decisões. Ou seja, é aquela pessoa que tem uma idéia, enxerga uma oportunidade e a transforma num negócio.

Aí vem a pergunta: “O que eu, um biólogo, tenho a ver com negócio, empresa?”. Bom pra começar empreendedorismo não é abrir um negócio. O conceito de empreendedorismo está acima de ganhar dinheiro. É ter uma idéia, um sonho, e fazer acontecer. Tem muito mais a ver com uma realização pessoal (e convenhamos quem optou pelo curso de biologia procura muito mais a realização pessoal do que grana).

O problema é que não aprendemos a ser empreendedores. Não sabemos o que procuramos, quais são nossos sonhos, o que queremos realizar. Em parte isso é responsabilidade da nossa educação, onde o mais importante é apreender conhecimento e não gerá-lo. Nossa educação nos prepara para escolhermos uma profissão, que já existe, e sermos especialista em resolver soluções já conhecidas. Essa educação é um resquício da era industrial, onde a retenção da informação e da tecnologia gerava uma vantagem competitiva.

O empreendedorismo já é temas de discussões e é ensinado em algumas escolas de administração há algumas décadas atrás. Porém com a internet, esse assunto é essencial em qualquer escola. A internet transformou o modo como lidamos com a informação. Hoje o importante não é o que sabemos e sim como usamos esse conhecimento.

O curso de Biologia é baseado principalmente na ciência pura. Um biólogo recém formado tem muito conhecimento, mas geralmente não sabe onde aplicar. É urgente hoje na graduação em biologia cursos que orientem e capacitem os profissionais, ensinando-os a enxergar as demandas e oportunidades dessa carreira.

A biologia certamente é uma das áreas mais promissoras, tanto na parte ambiental, biotecnologia, microbiologia, genética, etc. Porém está recheada por profissionais de outros cursos, como engenheiros, geólogos, farmacêuticos e químicos. Este fato em si não é problema, como biólogos, sabemos a importância da diversidade. Mas a falta de preparo em enxergar as demandas do mercado de trabalho faz com que os biólogos não consigam se posicionar adequadamente no mercado de trabalho.

Falar em empreendedorismo para um biólogo é mais do que simplesmente colocar no mercado de trabalho. É posicionar um profissional diferenciado que tem conhecimento e com capacidade de enxergar oportunidades o que beneficiaria todo o mercado e ambiente.

O que faz um biólogo?

Alunos de biologia não sabem com o que podem trabalhar. Essa é uma das conclusões a que se chega ao ler duas interessantes pesquisas desenvolvidas pelo professor Simão Dias Vasconcelos e seus orientados sobre os alunos dos cursos de Licenciatura e Bacharelado em Ciências Biológicas na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e de outras universidades da região. Apesar de esses estudos terem sidos desenvolvidos especificamente em Pernambuco, o autor cita outros trabalhos que tiveram alguns resultados semelhantes em Minas Gerais e acredito que em outros estados a situação não seja muito diferente.

Quando perguntado a alunos de bacharel em biologia de três universidades pernambucanas se depois de formados poderiam exercer atividades como ministrar aulas no ensino médio, diagnosticar morte em hospitais e receitar medicamentos veterinários, entre outras, apenas 36,5% das respostas estavam corretas ao dizer que não poderiam exercer essas atividades.

Mais preocupante foi quando perguntado ao mesmo grupo se outras atividades, como realizar análises clínicas, diagnosticar perícias criminais e elaborar relatórios de impacto ambientais, são aptas de um biólogo bacharel. Apenas 55,8% das respostas estavam corretas ao afirmar que tais atividades cabiam a este profissional.

Ao contrário do que parece, acredito que o grande problema aqui não são os alunos e sim os professores. Preocupados quase que exclusivamente com suas pesquisas e artigos científicos, os professores de ciências biológicas pouco sabem sobre mercado de trabalho do biólogo, ao menos que sua pesquisa “esbarre” com algum mercado.

Em outros cursos de graduação é comum encontrar docentes que após se formarem caíram no mercado de trabalho (fora do mundo acadêmico), adquiriram experiência e após alguns anos voltam a academia justamente para passar essa bagagem adquirida a seus alunos.

Na Biologia é raro encontrar esse tipo de docente (eu mesmo durante meus 8 anos de graduação e pós, na UFSCar e UNESP, nunca encontrei um, ou se encontrei não fiquei sabendo). É verdade, encontramos docentes da biologia que abrem empresas ou prestam serviços a algumas, mas dificilmente eles saíram do mundo acadêmico e mais difícil ainda é esse conhecimento ser passado para os alunos.

Bom e o que falar sobre a licenciatura desses Professores? Por serem em primeiro lugar pesquisadores as disciplinas que ministram (uma ou duas por ano) ficam em segundo plano. Muitas vezes as aulas já foram preparadas há alguns anos e o conteúdo mal é reciclado.

O que se espera que um aluno de Ciências Biológicas saiba sobre o mercado de trabalho de um biólogo se durante toda sua graduação os profissionais da área com que teve contato restringiram-se quase que exclusivamente a pesquisadores/ professores?

Os artigos do professor Vasconcelos talvez nos ajudem a responder essa pergunta:

-No curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da UFPE 90% dos alunos pretendiam fazer pós-graduação, porém apenas 17,7% na área de educação.

- Em outro artigo 100% dos alunos entrevistados deste mesmo curso visavam a carreira de professor universitário.

-Menos de 20% dos alunos de cursos de Bacharelado em Ciências Biológicas de três universidades pernambucanas pretendiam trabalhar em consultorias e outras ocupações não-acadêmicas.

O professor Vasconcelos sugere duas propostas para diminuir essa defasagem dos alunos. A primeira é incluir na grade do curso uma disciplina que conteúdos relacionados com as atividades profissionais dos biólogos. A outra sugestão é que os próprios professores abordem na sala de aula experiências e práticas que estimulem seus alunos sobre as atividades fora do mundo acadêmico.

Outro mecanismo que ajudaria a melhorar este problema seria as universidades procurem docentes que tenham a experiência do mercado de trabalho. Certamente poucos docentes com esse tipo de know-how mudaria muito o conceito que os graduandos têm sobre o que fazer depois de pegar o diploma de Ciências Biológicas.

Agora, finalizando, fica ao professor Vasconcelos uma pergunta: Qual seria o resultado se as questões, sobre quais atividades são aptas de um biólogo, fossem feitas aos docentes do curso?

Artigos citados:

-Vasconcelos, S. D; Lima, K. E. C. O professor de Biologia em formação: Reflexão com base no perfil socioeconômico e perspectivas de licenciados de uma universidade pública. Ciência & Educação, v.16, n.2, 2010.

-Oliveira, I. B.; Silva, L. O.; Souza, J. M. H. E.; Gomes, J. P; Lucena, L. R. F.; Amaral, W. S.; Vasconcelos, S. D. Avaliação das perspectivas e expectativas de bacharelandos em Biologia: perfil e regulamentação profissional.

Sobre os textos

Os textos desse blog, a princípio serão divididos em 3 tipos:

-Administração na Biologia, sobre como o biólogo pode, e deve, utilizar ferramentas administrativas para se inserir no mercado de trabalho.

-Discussões sobre o mercado do biólogo.

-Profissão Biólogo: biólogos de diferentes áreas irão falar sobre habilidades e dificuldades que enfrentam em seu trabalho.

Vamos aos textos!

Agradecimentos

Antes de postar meu primeiros textos gostaria de agradecer a todas as pessoas que de alguma forma se comprometeram a ajudar: Pedro Ortolano, André Braga, Victor Skrabe, Mayra Jankowsky, Mariana Machado, Mariana Gonzaga, Miguel de Souza e Magno Castelo Branco.

Agradeço a paciência por se envolverem com um projeto que era só uma idéia.

E conto com a ajuda de vocês!

Minha história e apresentação do Biosiness

Minha História

Depois de cinco anos de graduação em Biologia pela UFSCar e um mestrado em Zoologia na UNESP de Rio Claro, com seis meses de doutorado na mesma universidade, joguei tudo pro ar e fui aproveitar a oportunidade de me tornar gestor de um negócio da família. Nesses últimos cinco anos, como gestor, adquiri muita experiência de mercado de trabalho, tanto na prática, na frente de três lojas, como na teoria com cursos, palestras e um MBA em gestão empresarial pela FGV.

Mas aí aos poucos o lado biólogo voltou a aflorar. Dia após dia, vendo colegas biólogos irem a campo, publicando artigos, delineando projeto... Isso me dava um comichão... De vez em quando me pegava escondido no escritório lendo um paper, pensando num artigo a escrever, pedindo pra ir a campo junto com colegas, louco pra vestir uma roupa velha, pegar meus materiais e fazer umas coletinhas!

Percebi que realmente não daria continuar trabalhando como gestor de lojas pensando em ser biólogo. Ao mesmo tempo voltar a fazer um doutorado sem uma grande perspectiva de onde isso ia me levar também não me parecia um caminho razoável, aliás, foi justamente esse questionamento que me fez abandonar meu doutorado logo no início.

O problema

Queria voltar pra biologia, mas sem jogar fora meu conhecimento empresarial. Sem grana pra montar uma empresa, o que me veio à cabeça foi “vou procurar um emprego de biólogo” e aí veio uma pergunta: “onde um biólogo realmente pode trabalhar?”. Não foi uma surpresa pra eu ver que o mercado de trabalho do biólogo embora pareça ser bem amplo, na verdade não é tanto assim, e mais que isso, quase tudo que um biólogo faz , com exceção de algumas aulas de biologia, pode ser feito por outros profissionais: engenheiro agrônomo, florestal, geólogo, ecólogo, oceanógrafo, farmacêutico, biomédico, físico, químico... a lista é longa.

Nessa minha jornada em descobrir no que um biólogo pode trabalhar não descobri muita coisa e umas das razões pra isso é que o curso de biologia se preocupa muito em ensinar a ciência pura e quase nada de uma profissão. Isso traz um sério problema: a exceção do biólogo professor, onde geralmente existem diversas disciplinas voltadas para licenciatura, não existe nenhuma orientação sobre como aplicar os conhecimentos de ciências biológicas no mercado de trabalho.

Isso faz com que muitas vezes o biólogo recém-formado não consiga entrar rapidamente no mercado de trabalho sendo necessário investir numa educação complementar fazendo cursos de extensão universitária, pós-graduação, especialização, etc. Acredito que essa falta de educação para inserção no mercado tenha uma conseqüência ainda maio quando vemos, não raro, um biólogo mestre ou doutor que se encontra fora de sua área de pesquisa, como professor de escolas ou funcionário público, porque não soube se inserir no mercado de trabalho.

O projeto

Quando percebi o tamanho do problema, resolvi montar um projeto no intuito de diminuir essa defasagem. A idéia é criar um ciclo de palestras e cursos, com diversos parceiros para a inserção do biólogo em diversos ofícios nas mais diversas áreas como gestão ambiental, gestão pública de órgãos ambientais, coordenador escolar, coordenador de projetos científicos, professor universitário, etc.

O primeiro passo acaba de ser dado: um blog para divulgar alguns textos meus e de convidados, além de entrevistas com biólogos. Conto com a ajuda de todos, biólogos ou não, que se interessem pelo projeto contribuindo com textos e discussões.