sábado, 17 de dezembro de 2011

Profissão Biólogo: Controlador de Pragas Urbanas

Há 32 anos atuando no mercado de controle de pragas urbanas o biólogo Rubens Carlos de Moraes, diretor da Imunibem - Saneamento Ambiental, assistiu o desenvolvimento deste mercado, que inicialmente limitava-se a jardineiros que aplicavam produtos altamente cancerígenos, como o DDT e outros organoclorados, sem nenhum conhecimento técnico e segurança.

Com o crescimento das cidades, o número de pragas cresceu e junto com elas a profissionalização do mercado de controle de pragas urbanas. Os primeiros profissionais de nível superior que se interessaram por este mercado eram principalmente químicos e engenheiros agrônomos. Porém atualmente outros engenheiros, farmacêuticos, veterinários e biólogos vêm se interessando por esse ramo.

Dentro de uma empresa controladora de praga esses profissionais atuam como responsáveis técnicos, identificando pragas e traçando as estratégias de controle adequadas. Parece fácil, mas só com muito conhecimento técnico e experiência que se chega a bons resultados. E o conhecimento técnico sobre as pragas é justamente o diferencial do biólogo nesse mercado.

Segundo a portaria CVS-9 da ANVISA, o responsável técnico para este tipo de empresa pode ser um químico, farmacêutico, engenheiro (agrônomo e florestal), veterinário, biólogo entre outros. Porém, segundo Rubens, o biólogo é um profissional que vem se destacando pelo seu conhecimento na identificação e no comportamento das pragas.

Saber onde o animal se abriga, onde ele procura alimento e como se reproduz são conhecimentos essenciais para traçar a melhor estratégia de controle, evitando acidentes de contaminação, desperdício de produtos e futuras reinfestação. Assim, não é raro achar biólogos que crescem rapidamente dentro de empresas deste ramo.

Apesar da ANVISA exigir que a empresa tenha um responsável técnico, segundo Rubens , não é raro encontrar empresas onde não exista este profissional. Essas empresas ilegalmente pagam para que “profissionais” com a formação necessária assinem a documentação necessária, mesmo sem ter nenhum conhecimento do assunto. A respeito disto o CRBio assume um ótimo exemplo, exigindo que o biólogo que atue nesta área, tenha curso de especialização na área, ou que comprove que já tem experiência.

O mercado de controle de pragas urbanas esta em plena ascensão devido às altas taxas de crescimento populacional e a falta de planejamento urbano. Estima-se que existam no Brasil mais de 6.000 empresas controladoras de pragas que movimentam mais de 800 milhões de reais por ano, porém há um grande potencial para esse mercado que pode chegar a movimentar mais que o dobro desse valor.

Apesar do potencial deste mercado e do fato de o biólogo se destacar nesta área, poucos conhecem esta carreira. No curso de biologia o controle de pragas urbanas mal é mencionado, e mesmo na pós-graduação este assunto é um assunto quase ausente – existe apenas um curso de especialização em controle de pragas urbanas no Instituo Biológico em São Paulo.

A falta de conhecimento do biólogo sobre esse mercado com grande potencial para absorver este profissional evidencia um grande problema dos cursos de biologia que se preocupam mais em ensinar a ciência do que como aplica-la, preparando um profissional apto a entrar em diversos mercados de trabalho. Uma boa iniciativa para resolver tal problema seria trazer de volta para a sala de aula, como professores, profissionais que atuaram e conhecem os diversos mercados de trabalhos do biólogo.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Marketing é Ecologia

Quando falamos de marketing, certamente estamos falando sobre venda. Pode até soar estranho falar de venda pro biólogo, mas não deveria ser. Existe aquele estigma que o biólogo é aquele cara que vive no meio do mato, que não liga muito pra grana. Esqueça isso! Acredito que é justamente essa visão que se tem do biólogo seja em parte responsável pela falta de valorização desse profissional. Então, mesmo que você não sonhe com uma bolsa Gucci ou uma Ferrari, pense que você tem que ligar pra grana sim, pois infelizmente no mundo de hoje é assim que se dá valor a um profissional: pagando mais pelo seu serviço.

Dito isso vamos de fato entrar no nosso assunto principal e entender o que é Marketing.
É comum atrelarmos a idéia de Marketing à propaganda: mais uma vez esqueça isso! Publicidade e Propaganda é uma das áreas do Marketing. Não há uma, mas diversas definições para Marketing. Lá vai uma clássica: “Marketing é um processo social por meio do qual pessoas ou grupos de pessoas obtêm aquilo de que necessitam e o que desejam com a criação, oferta e livre negociação de produtos e serviços de valor com outros ”.

Complicado? Traduzindo para a Biologia podemos dizer que é Marketing é a Ecologia da Venda. É o estudo de toda relação entre a compra e venda de um produto (ou serviço), passando pela Propaganda (displays de comportamento), comportamento do consumidor, análise de concorrentes (competição), análise do mercado (fatores ambientais), etc.

Isso aproxima bastante o Marketing da Biologia. E podemos aproximar mais um pouco se pensarmos que a venda nada mais é que uma troca: o consumidor troca dinheiro (energia acumulada) por algum benefício.

O biólogo nada mais é que um prestador de serviços, seja ele autônomo ou funcionário de uma empresa (pública ou privada). Assim no mínimo é importante entendermos a nossa relação com nossos clientes.
Que tipo de você vende? Qual a importância do seu serviço pro cliente? Quem são seus clientes? Como melhorar a relação com ele? Como aumentar o número de clientes? Como fixar o preço? Quanto o cliente está disposto a pagar? Quais são seus concorrentes? Como a economia afeta seu negócio?

Essas são perguntas bem genéricas e resolvi não contextualizá-las a nenhuma área de biologia por querer, mas tenho certeza que seja lá qual for sua área de atuação biologia você já se vez algumas dessas perguntas. E se não fez para um pouco e pense, tenho certeza que contextualizando no seu trabalho algumas vão parecer bastante pertinentes.

Esse exercício de responder essas questões certamente é um passo importante para entendermos oque fazemos (vendemos) e quem compra (e porque) nosso serviço. Acredito que isso nos ajude ter uma visão melhor de nosso mercado e conseguirmos nos posicionar melhor dentro dele.

A proposta desse artigo foi dar uma primeira idéia do que é marketing e como podemos usá-lo na Biologia. Posteriormente postarei outros esmiuçando alguns conceitos de marketing e contextualizando para algumas áreas da Bio.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Os tipos de empresas de consultoria ambiental e os biólogos

Por Miguel Fontes de Souza

Apesar de ter experiência na área de consultoria ambiental, a minha visão sobre o mercado que envolve este negócio, bem como sobre o ambiente de trabalho das empresas deste ramo é restrita a uma vivência um tanto quanto incipiente. Digo isso não apenas pelo tempo de trabalho que tenho nesta área (aproximadamente 5 anos) mas, principalmente, pelo fato de tê-lo acumulado em apenas uma empresa. Portanto, deixo claro, antes de expor a minha visão sobre o assunto, que esta é restrita ao que vi no decorrer deste tempo, tanto na empresa que trabalho quanto nas empresas que tive contato.

Outra premissa que gostaria de deixar antes de entrar na minha ideia da coisa toda é que a consultoria ambiental, enquanto atividade profissional é tão ampla quanto a própria biologia, enquanto ciência. Num breve exercício de memória podem ser citados inúmeros compartimentos desta área, por exemplo, saneamento ambiental, levantamento de áreas contaminadas, levantamento de fauna/flora, entre outros tantos.

Acredito que existam dois modelos distintos de empresas de consultoria ambiental, cada um proporcionando um espaço distinto para o biólogo. O primeiro modelo seria uma empresa estritamente focada em um ramo específico desta grande área, tal qual o suporte às atividades de licenciamento ambiental, ou o controle de contaminação de solo etc. Estas empresas ocupam um nicho específico do mercado e necessitam, para tanto, contar com um corpo técnico especializado na linha de frente dos seus projetos. O foco nestas atividades específicas garante que este profissional especializado esteja alocado o tempo todo nas atividades da empresa, o que justifica o gasto que a empresa tem com os seus vencimentos (em geral, altos). 

No outro lado, estão aquelas empresas onde a consultoria ambiental se dá de acordo com a demanda do mercado. Normalmente, estas empresas se dedicam a garimpar diários oficiais em busca de processos licitatórios, especializadas em oferecer serviço ao governo, independente da esfera. Estas empresas, num dia, estão concorrendo por projetos de recursos hídricos, e noutro elaborando estudos de impactos ambientais de empreendimentos de naturezas diferentes. 

Nestas empresas, a necessidade por um profissional altamente especializado é pequena. A manutenção de, por exemplo, um biólogo com doutorado em qualidade da água se torna inviável, uma vez que o seu custo homem/hora é muito alto e nem sempre este recurso estará alocado nas atividades de rotina, tendo em vista que nem sempre estarão em curso os contratos pertinentes a esta área do conhecimento. A solução encontrada para estas empresas é manter profissionais pouco especializados e, quando houver a necessidade de uma expertise um pouco mais lapidada, lança-se mão do consultor propriamente dito. Este consultor é um profissional independente, altamente especializado e, geralmente, com peso acadêmico suficiente para respaldar a qualidade dos serviços que virão a ser prestados pela empresa.

A partir da constatação acima, e considerando o que foi dito no texto “O biólogo como consultor ambiental”, abro frente para outra discussão.
A graduação de biologia não só peca em preparar o aluno para encarar o mercado mas também forma profissionais tão generalistas quanto o conteúdo previsto na sua grade. O biólogo é um profundo conhecedor das generalidades embutidas nas diferentes expressões da vida e dos seus fenômenos. Mesmo aquele que se destacou durante o desenvolvimento do seu trabalho de conclusão de curso, não escapa de ser um limitado conhecedor daquilo que se propôs a estudar. O status de especialista só se justificará com a sua evolução acadêmica, a pós-graduação. Assim como o de consultor ambiental.

Neste sentido, tomo a liberdade de editar o texto mencionado, afirmando que o biólogo recém formado tem como opções de carreira a academia, a educação, o mercado de consultoria ambiental (e não a consultoria propriamente dita), além do setor público, carreira esta que eu considero nobre no que diz respeito ao peso que tem para o desenvolvimento do Estado.

domingo, 9 de outubro de 2011

O biólogo como consultor ambiental

Preciso confessar que, como biólogo, sei muito pouco sobre a carreira de consultoria ambiental. Sei que o biólogo pode muito mais do que fazer relatórios EIA/RIMA e levantamento de fauna, mas não sei dizer até onde podemos ir.

Tenho que assumir minha culpa nessa minha falta de conhecimento, mas acredito que a grande parcela dessa defasagem vem da minha formação: não tive nenhuma disciplina sobre esse assunto. E olha que fiz um dos cursos considerados entre os melhores do Brasil: Ciências Biológicas da UFSCar. Esse problema não é só dessa universidade: na grade de disciplinas do curso da USP, certamente um dos melhores do Brasil, de 38 disciplinas obrigatórias, não existe nenhuma sobre consultoria ambiental.

Mesmo sem entender muito dessa carreira, me atrevo a escrever sobre esse tema devido a duas constatações que fiz recentemente. A primeira foi em um site sobre empregos de consultoria ambiental onde das últimas 40 ofertas de empregos divulgadas pelo site NENHUMA era exclusiva para biólogos e apenas TRÊS podiam ser preenchidas por biólogos.

Assustador? A outra triste constatação veio de uma rápida procura na internet sobre empresas de consultoria ambiental e quais os cargos que biólogos ocupam dentro dessas empresas. De 13 empresas que eu consegui descobrir o quadro de funcionários apenas 20% dos funcionários (27 de 134 funcionários) eram biólogos. Essa porcentagem cai para menos de 9% (9 biólogos entre 108 funcionários) quando excluímos empresas que têm biólogos como diretores.

Nessa pesquisa outro dado que me pareceu importante foi que as empresas que têm biólogos como diretores (4 de 13 empresas) parecem ter um perfil diferente das outras quanto ao quadro de funcionário: enquanto que aquelas formadas ,principalmente, por engenheiro encontrei uma média de dez funcionários, empresas formadas por biólogos tem em média 6,5 funcionários. Mais do que isso três dessas últimas eram formadas apenas por três ou quatro biólogos, o que me pareceu muito mais uma “cooperativa” de consultores do que uma empresa.

É claro que esses dados não têm nenhum embasamento estatístico e embora não possa afirmar que esse quadro reflita o que realmente acontece nessas empresas, levando-se em conta a falta de conhecimento sobre essa carreira por conta do biólogo e a falta de oferta de empregos nessa área, acho que esses dados não estão muito longe da realidade.

Biólogos não estão preparados para entrarem num mercado de trabalho. A faculdade não os capacita para isso. Sem ter muitas informações sobre onde pode atuar o biólogo muitas vezes acaba “caindo” na área de consultoria por falta de opção: os principais empregos para biólogo é professor, pesquisador e consultor ambiental. Se você não se encaixa nas duas primeiras e se você não conhece outros campos de trabalho, vira consultor, ou tenta.

Tudo bem, qual faculdade que prepara realmente o profissional pro mercado? Poucas, mas na biologia isso é levado a um extremo. Aprendemos quase que exclusivamente a fazer ciência.

Essa falta de compreensão sobre o mercado de trabalho é muito evidente na área de consultoria ambiental onde competimos com outros profissionais que tem uma visão de mercado pelo menos um pouco melhor: engenheiros florestais, ambientais, agrônomos, químicos, geólogos, administradores. Aliás, a maioria dos funcionários das empresas que encontrei eram engenheiros, inclusive os diretores.

Biólogos deveriam representar muito mais que 10 ou 20% dos funcionários dessas empresas. Precisaria haver mais empresas, e maiores, formadas por biólogos. O entendimento que o biólogo tem sobre a complexidade dos processos ecológicos e a consequências de ações que interfiram nestes, é seu grande diferencial. Porém sua a cegueira sobre seu próprio potencial faz com que empresas também não o enxerguem seu valor.

Como falei no começo do texto, não conheço muito sobre essa profissão e peço desculpas aos biólogos consultores se eu estiver errado, mas infelizmente é assim que vejo essa carreira e acredito que essa visão não é só minha.

Conto também com a ajuda de vocês para divulgar um pouco mais sobre essa carreira.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O Plano de Negócio x O Projeto Científico

Uma das mais poderosas ferramentas utilizadas na administração de empresas é o Plano de Negócio. O nome já diz tudo: é um estudo, um planejamento sobre algum negócio., que pode ser entre outras coisas a criação de uma nova empresa, um novo produto, um novo setor dentro da empresa.

O que faz do Plano de Negócio tão importante é que ele junta conhecimentos de diversas áreas (marketing, estratégia, gestão de custos, finanças, etc.) com um único propósito. Talvez não seja o único modo de pensar, mas um jeito interessante de ver um Plano de Negócio é como projeto que se quer vender a alguém: você quer que alguém invista neste projeto e pra isso é preciso esmiuçar todas as partes do projeto, desde a análise do mercado até as finanças.

Esse aspecto aproxima muito o Plano de Negócio de um projeto científico: alguém precisa comprar sua idéia, seja um programa de pós-graduação, uma fundação, uma ong ou um órgão de fomento. Porém não é comum encontrar pesquisadores que não vejam seus projetos como um negócio e por causa disso algumas vezes ótimas idéias de pesquisas são engavetadas por que não souberam vende-las a investidores.

Um dos primeiros pontos a serem tratados num plano de Negócio é a análise do mercado. Pode-se compara este tópico à justificativa de um projeto científico, pois contextualizará a importância do negócio. Porém há uma grande diferença na abordagem: enquanto boa parte de um plano de negócio é a análise do mercado, não é raro encontrar projetos com introduções enormes e justificativas de menos de uma página.

Em parte isso se deve à diferença cultural que existe entre o universo científico e empresarial – não adianta você mandar um projeto pra FAPESP com um levantamento bibliográfico pequeno e uma análise de mercado enorme: quem vai aprovar seu projeto são cientistas, acostumados com o formato de projetos científicos. Aliás, muitas vezes boa parte da “análise de mercado” é justamente a pesquisa bibliográfica da introdução. Porém não podemos deixar de ver a pesquisa como um negócio e nem de contextualizarmos bem a pesquisa para mostrarmos sua importância e principalmente por que esse projeto é prioritário.

Outros dois pontos interessantes de um Plano de Negócio para serem abordados numa projeto de pesquisa diz respeito a gestão de custos e viabilidade do negócio.

É óbvio que saber qual o preço do projeto é essencial e muitas vezes isso é exigido pelos órgãos de fomento, mas mesmo se não for deve ser feito. Um controle adequado dos custos de um projeto evita que faltem verbas para a pesquisa e pode muitas vezes trazer outros benefícios como a compra de equipamentos para o laboratório. Outro ponto essencial a se ressaltar é que o levantamento adequado e consciente dos custos evita a supervalorização da pesquisa, assim, pelo menos teoricamente, os investidores têm mais dinheiro para investir em outras pesquisas.

Por último um tema obrigatório de um Plano de Negócio relaciona-se a viabilidade e rentabilidade de um negócio. Um projeto científico, que geralmente não objetiva ser um negócio rentável, não tem a necessidade de mostrar sua rentabilidade, mas é importante mostrar qual a importância desse projeto direta ou indiretamente para o ambiente, para a saúde ou até para a economia.

Certamente que boa parte dos pontos aqui levantados já são abordados dentro de um projeto de pesquisa. A grande sacada de olhar esse projeto como um plano de negócio é mudar um pouco o foco: é enxergar a pesquisa pelo o olho do investidor. Mais do que simplesmente ajudar uma projeto a ser aprovado, isso pode fazer com que uma simples idéia se transforme numa pesquisa, que pode se tornar um grande projeto podendo até virar uma empresa que além de gerar lucro, contribua também com o ambiente, a saúde e a economia.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Profissão Biólogo: Gestor de Instituto de Pesquisa

A contribuição de um biólogo, ou qualquer outro pesquisador/professor, em um centro de pesquisa, seja dentro de uma universidade ou um instituto, pode (e deve) ir muito além de simplesmente desenvolver sua pesquisa. É comum encontrarmos pesquisadores que além de suas pesquisas viram gestores como coordenadores de congressos, chefes de departamentos de pesquisas, coordenadores de programas de pós-graduação e até reitores de universidades.

Não é um trabalho fácil: além da dupla jornada e de ter que abrir mão de boa parte da pesquisa para lidar com assuntos como gestão de orçamentos, finanças e planejamento, esses pesquisadores são obrigados a enfrentar as famosas “buchas” que caem em sua mesa. No entanto o esforço é recompensado pelas melhorias que proporcionam e a visão desenvolvida pelo fato de sair um pouco do mundinho da pesquisa são lições que nunca se esquece.

Foi exatamente isso que aconteceu com a Ana Eugênia Campos, bióloga, especialista em pragas urbanas, pesquisadora científica do Instituto Biológico (IB) em São Paulo. Ao conversar com o diretor do IB sobre a possibilidade de ser transferida para a unidade de Campinas foi convidada por ele a trabalhar por um tempo na gestão do instituto antes de se transferir. Apesar da falta que sente do laboratório para estudar “as formiguinhas”, área de pesquisa que atua, está há sete anos na gestão do instituto onde hoje é Assessora de Gestão Estratégica, e ao contar pelo seu entusiasmo quando fala sobre as melhorias proporcionadas pela gestão da qual faz parte, as formigas vão ter que esperar mais um pouco.

Uma das mais interessantes ações que esta gestão fez relaciona-se às análises quantitativas realizadas com respeito às pesquisas desenvolvidas dentro do IB, à prestação de serviços (diagnósticos realizados), treinamento de pessoal e projetos aprovados em agências de fomento. A partir disso, criaram-se indicadores a fim de serem estabelecidas metas tanto para o pesquisador, como para o centro de pesquisa e para todo o IB e premiações para aqueles que tiveram melhores resultados.(eg. número de publicações e projetos aprovados, entre outros). Tudo isso com uma equipe de outros assessores e é claro com o entusiasmo do diretor geral, Antonio Batista Filho, engenheiro agrônomo.

"Acredito que esse ótimo modelo de gestão, que mostrou excelentes resultados, ocorra devido a participação de uma equipe que promova uma transparência nas suas atividades demonstrando aonde se quer chegar", diz Ana. A visão multidisciplinar, apesar de difícil de ser implementada, é de extrema importância e a oportunidade de participar da gestão de uma Instituição de pesquisa nos tira de um mundo relativamente restrito, enquanto se está somente dentro do laboratório, para uma visão mais abrangente.

Em contrapartida a visão científica vinda de sua formação como bióloga foi um de seus trunfos: ao avaliar projetos de áreas diferentes, mesmo sem entender nada do assunto, poderia dar importantes contribuições à pesquisa analisando o delineamento experimental por exemplo e os impactos dos resultados a serem alcançados.

A combinação da visão única do biólogo sobre alguns temas (por exemplo delineamento experimental, ambiente e sustentabilidade) aliada ao conhecimento de algumas ferramentas administrativas, como no caso da Ana Eugênia Campos, faz desse um profissional diferenciado no mercado, que pode trazer importantes melhorias, não só para seu emprego, mas pro próprio ambiente de trabalho seja um instituto, departamento, programa de pós-graduação, empresa de consultoria, escolas, etc.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Profissão Biólogo: Designer Gráfico de Modelos Científico

“Se não achar um emprego que você goste, crie seu próprio emprego”. Essa máxima parece se encaixar perfeitamente para Victor Skrabe. Ele mesmo afirma que se houvesse alguma empresa na área, provavelmente ele estivesse trabalhando nela. Mas como não existia, ele tratou de criar a BIOSPHERA, empresa que desenvolve animações e softwares de computação gráfica voltados para ciência, principalmente medicina.

Embora no fim da graduação já ganhasse dinheiro desenvolvendo sites e animações, não via neste trabalho uma carreira, apenas um jeito de sobreviver enquanto não entrava na vida acadêmica. Ironicamente, foi quando desistiu de entrar num programa de pós-graduação, desmotivado pelo orientador, que enxergou que realmente aquela poderia ser sua profissão.

Somos criados num ensino onde o aprendemos quase que exclusivamente a reter conhecimento e não gera-lo. Dentro desse conceito o que importa é quanto você sabe sobre um determinado tema. Somos avaliados a partir da informação que conseguimos reter dos livros.

No empreendedorismo o que acontece é um pouco diferente: o conhecimento sozinho não é suficiente, é preciso saber onde aplica-lo. Talvez por isso seja difícil identificar pessoas, até nós mesmo, como empreendedores.

E foi exatamente isso que aconteceu com o Vitor durante sua monografia. Seu trabalho, uma animação da via metabólica glicólise, rendeu muitas discussões entre professores de graduação se poderia ou não ser aceito como um trabalho de Biologia.

Talvez esta tenha sido a primeira, mas não a única vez que Victor esbarrou com a falta de visão mercadológica dos biólogos. Ao tentar, no intuito de trocar experiências, contatar um dos poucos biólogos que desenvolve um trabalho parecido com o seu, porém dentro de uma universidade, não obteve resposta. Provavelmente o medo de trocar informações do seu trabalho antes de patenteá-lo afastou-o de Victor, que poderia ajudar mostrando uma visão do mercado: “Mais importante que desenvolver um produto e patenteá-lo é ver se existe mercado! Que adianta gastar tempo e dinheiro com um produto se não tem quem compre?”.

O altruísmo que demonstrou nesse caso mostra bem sua visão empreendedora: mas importante que reter a informação é compartilhar para se conseguir construir projetos melhores. É claro que todos querem ganhar dinheiro (mesmo não querendo você tem que pagar suas contas), mas podemos fazer isso de um jeito que todos ganhem. Isso é uma visão empreendedora, que muitas vezes falta no mundo acadêmico – quantas vezes, dentro de departamentos, projetos interessantes não foram pra frente por causa da falta de visão e egocentrismo dos professores/pesquisadores?

Em sete anos a BIOSPHERA já desenvolveu sites, animações e modelos 3D para grandes empresas e universidades como Bayer Schering Pharma, Hospital Albert Einstein, USP e UFSCar e atualmente está desenvolvendo softwares para venda direta, como o Célula Virtual 1.0, para auxiliar professores no ensino de citologia.

O diferencial da empresa está justamente no conhecimento que Victor adquiriu na faculdade de Biologia. Geralmente os clientes chegam a BIOSPHERA depois de enfrentarem uma verdadeira via cruci em outras empresas. Muitos desses clientes têm dificuldades em explicar com exatidão o que eles querem. Com um conhecimento mais apurado em fisiologia, por exemplo, Victor consegue entender e direcionar o foco do trabalho.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O boom populacional de doutores no Brasil

Hoje as universidades, mais do que formar profissionais para o mercado de trabalho, viraram um grande centro de formação de pesquisadores. Um estudo desenvolvido pelo Centro de Gestão de Estudo Estratégicos (CGEE)em 2010 mostra que o número de doutores entre 1996 e 2008 cresceu 278%. Esse aumento no número de pós-graduandos é importantíssimo para a pesquisa no Brasil, que no último ano passou a fazer parte do seleto grupo dos 20 países com maior número de publicações científicas.

Em diversas profissões uma pós-graduação, além da pesquisa pura, visa posicionar o profissional dentro de um determinado mercado, fazendo com que ele tenha um conhecimento maior em determinado assunto, ajudando-o a se inserir no mercado de trabalho.

Na biologia um curso de pós-graduação está ligado quase que exclusivamente a pesquisa científica. Isso pode ser evidenciado na proporção entre cursos lactu sensu e sensus stricto para biólogos. Embora eu não tenha um dado preciso, pelo menos nas grandes universidades de São Paulo posso afirmar que existem muito mais pós-graduação de biologia voltada para a pesquisa (strictu sensus – mestrado e doutorado) do que para sua aplicação no mercado de trabalho (lactu sensus – especialização e MBA).

Isso faz com que a pesquisa em biologia no Brasil seja muito bem conceituada: publicações em revistas respeitáveis, cursos de pós-graduações reconhecidos internacionalmente, pós-doutorados e parcerias com importantes universidades estrangeiras, congressos e simpósios com número expressivo de pesquisadores estrangeiro, etc.

Porém esse desenvolvimento da pesquisa, na biologia em especial, esconde um problema: pra onde vão tantos pós-graduandos?

Um exemplo: Na Universidade Federal de São Carlos temos 3 programas de pós graduação dentro da biologia. Em média temos uns 10 orientadores em cada programa. Agora vamos imaginar que no começo de um determinado ano para cada orientador ingressem um aluno de doutorado e 2 de mestrado (o que não é muito). São 90 pesquisadores que serão formados em apenas uma universidade! Apenas os que ingressaram em um ano! Será que o “mercado acadêmico” comporta tantos pesquisadores?

Muitas vezes pela falta de perspectiva e orientação de como ingressar no mercado de trabalho, o biólogo recém-formado se ilude com a facilidade de uma bolsa de pós-graduação, sem questionar aonde isso o vai levar. Isso só piora a situação: depois de 2 anos de mestrado e 4 de doutorado o biólogo acaba se encontrando num limbo – onde aplicar tanto conhecimento?

Uma boa iniciativa para a solução deste problema seria um maior envolvimento da iniciativa privada com as universidades, não apenas financiando, mas também direcionando o desenvolvimento de pesquisas e projetos em áreas estratégicas e assimilando esses futuros pesquisadores. Outra sugestão é os cursos de graduação em Biologia orientarem seus alunos sobre as diversas carreiras de um biólogo e fazendo-os enxergar que uma pós-graduação nem sempre os ajudará a arrumar um emprego.

Porque falar de Empreendedorismo pra Biólogos?

Pra responder essa pergunta, primeiro é preciso saber o que é ser empreendedor. Embora esse tema seja muito abordado, principalmente nas ciências administrativas, não existe um consenso na literatura sobre o que é empreendedorismo, isso porque esse ramo de estudo é relativamente novo. Além disso, empreendedorismo não deve ser tratado como uma ciência exata, com conceitos e formas definidas, em cada região e em cada época existe uma definição diferente.

Empreendedorismo pode ser definido como: “o envolvimento de pessoas e processos que transformam idéias em oportunidades”. Ou contextualizando para a falta de incentivos a formação e suporte a empresa no Brasil afirma a que “é a capacidade de criar algo a partir de muito pouco, ou quase nada”. Pode-se citar outras tantas definições, mas na maioria dos autores uma pessoa empreendedora é aquela visionária, proativa, criativa, com iniciativa e poder de tomada de decisões. Ou seja, é aquela pessoa que tem uma idéia, enxerga uma oportunidade e a transforma num negócio.

Aí vem a pergunta: “O que eu, um biólogo, tenho a ver com negócio, empresa?”. Bom pra começar empreendedorismo não é abrir um negócio. O conceito de empreendedorismo está acima de ganhar dinheiro. É ter uma idéia, um sonho, e fazer acontecer. Tem muito mais a ver com uma realização pessoal (e convenhamos quem optou pelo curso de biologia procura muito mais a realização pessoal do que grana).

O problema é que não aprendemos a ser empreendedores. Não sabemos o que procuramos, quais são nossos sonhos, o que queremos realizar. Em parte isso é responsabilidade da nossa educação, onde o mais importante é apreender conhecimento e não gerá-lo. Nossa educação nos prepara para escolhermos uma profissão, que já existe, e sermos especialista em resolver soluções já conhecidas. Essa educação é um resquício da era industrial, onde a retenção da informação e da tecnologia gerava uma vantagem competitiva.

O empreendedorismo já é temas de discussões e é ensinado em algumas escolas de administração há algumas décadas atrás. Porém com a internet, esse assunto é essencial em qualquer escola. A internet transformou o modo como lidamos com a informação. Hoje o importante não é o que sabemos e sim como usamos esse conhecimento.

O curso de Biologia é baseado principalmente na ciência pura. Um biólogo recém formado tem muito conhecimento, mas geralmente não sabe onde aplicar. É urgente hoje na graduação em biologia cursos que orientem e capacitem os profissionais, ensinando-os a enxergar as demandas e oportunidades dessa carreira.

A biologia certamente é uma das áreas mais promissoras, tanto na parte ambiental, biotecnologia, microbiologia, genética, etc. Porém está recheada por profissionais de outros cursos, como engenheiros, geólogos, farmacêuticos e químicos. Este fato em si não é problema, como biólogos, sabemos a importância da diversidade. Mas a falta de preparo em enxergar as demandas do mercado de trabalho faz com que os biólogos não consigam se posicionar adequadamente no mercado de trabalho.

Falar em empreendedorismo para um biólogo é mais do que simplesmente colocar no mercado de trabalho. É posicionar um profissional diferenciado que tem conhecimento e com capacidade de enxergar oportunidades o que beneficiaria todo o mercado e ambiente.

O que faz um biólogo?

Alunos de biologia não sabem com o que podem trabalhar. Essa é uma das conclusões a que se chega ao ler duas interessantes pesquisas desenvolvidas pelo professor Simão Dias Vasconcelos e seus orientados sobre os alunos dos cursos de Licenciatura e Bacharelado em Ciências Biológicas na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e de outras universidades da região. Apesar de esses estudos terem sidos desenvolvidos especificamente em Pernambuco, o autor cita outros trabalhos que tiveram alguns resultados semelhantes em Minas Gerais e acredito que em outros estados a situação não seja muito diferente.

Quando perguntado a alunos de bacharel em biologia de três universidades pernambucanas se depois de formados poderiam exercer atividades como ministrar aulas no ensino médio, diagnosticar morte em hospitais e receitar medicamentos veterinários, entre outras, apenas 36,5% das respostas estavam corretas ao dizer que não poderiam exercer essas atividades.

Mais preocupante foi quando perguntado ao mesmo grupo se outras atividades, como realizar análises clínicas, diagnosticar perícias criminais e elaborar relatórios de impacto ambientais, são aptas de um biólogo bacharel. Apenas 55,8% das respostas estavam corretas ao afirmar que tais atividades cabiam a este profissional.

Ao contrário do que parece, acredito que o grande problema aqui não são os alunos e sim os professores. Preocupados quase que exclusivamente com suas pesquisas e artigos científicos, os professores de ciências biológicas pouco sabem sobre mercado de trabalho do biólogo, ao menos que sua pesquisa “esbarre” com algum mercado.

Em outros cursos de graduação é comum encontrar docentes que após se formarem caíram no mercado de trabalho (fora do mundo acadêmico), adquiriram experiência e após alguns anos voltam a academia justamente para passar essa bagagem adquirida a seus alunos.

Na Biologia é raro encontrar esse tipo de docente (eu mesmo durante meus 8 anos de graduação e pós, na UFSCar e UNESP, nunca encontrei um, ou se encontrei não fiquei sabendo). É verdade, encontramos docentes da biologia que abrem empresas ou prestam serviços a algumas, mas dificilmente eles saíram do mundo acadêmico e mais difícil ainda é esse conhecimento ser passado para os alunos.

Bom e o que falar sobre a licenciatura desses Professores? Por serem em primeiro lugar pesquisadores as disciplinas que ministram (uma ou duas por ano) ficam em segundo plano. Muitas vezes as aulas já foram preparadas há alguns anos e o conteúdo mal é reciclado.

O que se espera que um aluno de Ciências Biológicas saiba sobre o mercado de trabalho de um biólogo se durante toda sua graduação os profissionais da área com que teve contato restringiram-se quase que exclusivamente a pesquisadores/ professores?

Os artigos do professor Vasconcelos talvez nos ajudem a responder essa pergunta:

-No curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da UFPE 90% dos alunos pretendiam fazer pós-graduação, porém apenas 17,7% na área de educação.

- Em outro artigo 100% dos alunos entrevistados deste mesmo curso visavam a carreira de professor universitário.

-Menos de 20% dos alunos de cursos de Bacharelado em Ciências Biológicas de três universidades pernambucanas pretendiam trabalhar em consultorias e outras ocupações não-acadêmicas.

O professor Vasconcelos sugere duas propostas para diminuir essa defasagem dos alunos. A primeira é incluir na grade do curso uma disciplina que conteúdos relacionados com as atividades profissionais dos biólogos. A outra sugestão é que os próprios professores abordem na sala de aula experiências e práticas que estimulem seus alunos sobre as atividades fora do mundo acadêmico.

Outro mecanismo que ajudaria a melhorar este problema seria as universidades procurem docentes que tenham a experiência do mercado de trabalho. Certamente poucos docentes com esse tipo de know-how mudaria muito o conceito que os graduandos têm sobre o que fazer depois de pegar o diploma de Ciências Biológicas.

Agora, finalizando, fica ao professor Vasconcelos uma pergunta: Qual seria o resultado se as questões, sobre quais atividades são aptas de um biólogo, fossem feitas aos docentes do curso?

Artigos citados:

-Vasconcelos, S. D; Lima, K. E. C. O professor de Biologia em formação: Reflexão com base no perfil socioeconômico e perspectivas de licenciados de uma universidade pública. Ciência & Educação, v.16, n.2, 2010.

-Oliveira, I. B.; Silva, L. O.; Souza, J. M. H. E.; Gomes, J. P; Lucena, L. R. F.; Amaral, W. S.; Vasconcelos, S. D. Avaliação das perspectivas e expectativas de bacharelandos em Biologia: perfil e regulamentação profissional.

Sobre os textos

Os textos desse blog, a princípio serão divididos em 3 tipos:

-Administração na Biologia, sobre como o biólogo pode, e deve, utilizar ferramentas administrativas para se inserir no mercado de trabalho.

-Discussões sobre o mercado do biólogo.

-Profissão Biólogo: biólogos de diferentes áreas irão falar sobre habilidades e dificuldades que enfrentam em seu trabalho.

Vamos aos textos!

Agradecimentos

Antes de postar meu primeiros textos gostaria de agradecer a todas as pessoas que de alguma forma se comprometeram a ajudar: Pedro Ortolano, André Braga, Victor Skrabe, Mayra Jankowsky, Mariana Machado, Mariana Gonzaga, Miguel de Souza e Magno Castelo Branco.

Agradeço a paciência por se envolverem com um projeto que era só uma idéia.

E conto com a ajuda de vocês!

Minha história e apresentação do Biosiness

Minha História

Depois de cinco anos de graduação em Biologia pela UFSCar e um mestrado em Zoologia na UNESP de Rio Claro, com seis meses de doutorado na mesma universidade, joguei tudo pro ar e fui aproveitar a oportunidade de me tornar gestor de um negócio da família. Nesses últimos cinco anos, como gestor, adquiri muita experiência de mercado de trabalho, tanto na prática, na frente de três lojas, como na teoria com cursos, palestras e um MBA em gestão empresarial pela FGV.

Mas aí aos poucos o lado biólogo voltou a aflorar. Dia após dia, vendo colegas biólogos irem a campo, publicando artigos, delineando projeto... Isso me dava um comichão... De vez em quando me pegava escondido no escritório lendo um paper, pensando num artigo a escrever, pedindo pra ir a campo junto com colegas, louco pra vestir uma roupa velha, pegar meus materiais e fazer umas coletinhas!

Percebi que realmente não daria continuar trabalhando como gestor de lojas pensando em ser biólogo. Ao mesmo tempo voltar a fazer um doutorado sem uma grande perspectiva de onde isso ia me levar também não me parecia um caminho razoável, aliás, foi justamente esse questionamento que me fez abandonar meu doutorado logo no início.

O problema

Queria voltar pra biologia, mas sem jogar fora meu conhecimento empresarial. Sem grana pra montar uma empresa, o que me veio à cabeça foi “vou procurar um emprego de biólogo” e aí veio uma pergunta: “onde um biólogo realmente pode trabalhar?”. Não foi uma surpresa pra eu ver que o mercado de trabalho do biólogo embora pareça ser bem amplo, na verdade não é tanto assim, e mais que isso, quase tudo que um biólogo faz , com exceção de algumas aulas de biologia, pode ser feito por outros profissionais: engenheiro agrônomo, florestal, geólogo, ecólogo, oceanógrafo, farmacêutico, biomédico, físico, químico... a lista é longa.

Nessa minha jornada em descobrir no que um biólogo pode trabalhar não descobri muita coisa e umas das razões pra isso é que o curso de biologia se preocupa muito em ensinar a ciência pura e quase nada de uma profissão. Isso traz um sério problema: a exceção do biólogo professor, onde geralmente existem diversas disciplinas voltadas para licenciatura, não existe nenhuma orientação sobre como aplicar os conhecimentos de ciências biológicas no mercado de trabalho.

Isso faz com que muitas vezes o biólogo recém-formado não consiga entrar rapidamente no mercado de trabalho sendo necessário investir numa educação complementar fazendo cursos de extensão universitária, pós-graduação, especialização, etc. Acredito que essa falta de educação para inserção no mercado tenha uma conseqüência ainda maio quando vemos, não raro, um biólogo mestre ou doutor que se encontra fora de sua área de pesquisa, como professor de escolas ou funcionário público, porque não soube se inserir no mercado de trabalho.

O projeto

Quando percebi o tamanho do problema, resolvi montar um projeto no intuito de diminuir essa defasagem. A idéia é criar um ciclo de palestras e cursos, com diversos parceiros para a inserção do biólogo em diversos ofícios nas mais diversas áreas como gestão ambiental, gestão pública de órgãos ambientais, coordenador escolar, coordenador de projetos científicos, professor universitário, etc.

O primeiro passo acaba de ser dado: um blog para divulgar alguns textos meus e de convidados, além de entrevistas com biólogos. Conto com a ajuda de todos, biólogos ou não, que se interessem pelo projeto contribuindo com textos e discussões.