O Biólogo e o Voto de Pobreza

Uma coisa que realmente me deixa injuriado é quando falam que biólogo não trabalha pra ganhar dinheiro e sim por prazer.

 Esse ideal é realmente lindo e maravilhoso, mas quando as contas batem na porta, aí meu amigo, ao menos que se tenha as “costas quentes”, muita gente larga aquela incrível pesquisa do bico do beija-flor de Piraporinha pra ralar numa empresa de consultoria, como professor de escola ou em outra profissão.

 Eu mesmo me considero uma pessoa bem desapegada em relação a dinheiro, e também gostaria de viver de pesquisa o resto da minha vida sem ter que se preocupar com grana. Mas não fiz nenhum voto de pobreza – não trabalho de graça e nem por ninharia.

 A idéia deste texto veio em parte de uma conversa com uma amiga bióloga, indignada que na área em consultoria ambiental, em especial na área de levantamento de fauna, muitos biólogos se sujeitam a ganhar muito pouco ou nada em alguns trabalhos e que com isso desvalorizam a profissão. É muito comum encontrar biólogos que vão fazer um trabalho no meio do mato sem ganhar um realzinho, simplesmente pelo prazer de estar ali no meio da floresta.

 Não estou criticando trabalhos e estágios voluntários, o que acontece é que muitas vezes esses trabalhos feitos de graça deveriam ser pagos ( talvez se fosse para outro profissional seria pagos), sem contar o risco que muitas vezes assumimos entrando em matas, manipulando matérias contagiosos, produtos venenosos, etc.

 O biólogo se sujeitando a tais trabalhos acaba por desvalorizar a si e a sua profissão: pra que a empresa vai pagar alguém pra um trabalho que outros fazem de graça ou por ninharia?

 Toda profissão é um negócio. Músicos, artistas, vendedores e até contadores (acreditem se quiser) trabalham por prazer e ganham por isso. Realmente, ao escolhermos nossa profissão não almejávamos uma vida onde pudéssemos trocar de carro todo ano e viajar duas vezes por ano pra Suíça. Abrimos mão de muitas coisas só pra fazermos o que amamos, mas temos que saber e fazer quem nos contrato entender que não fizemos votos de pobreza.

 Um biólogo ganhando bem não está se sujeitando aos valores do neocapitalismo, ou coisa assim, simplesmente está valorizando a si e a uma profissão que apesar da sua grande importância, muitas vezes é desvalorizada.

Tenho que confessar que não é fácil recusar um trabalho voluntário no pantanal ou na Amazônia. Nem um trabalho onde se ganhe muito pouco, quando não se está ganhando nada. Temos que assumir parte da culpa deste problema e cobrar do conselho de biologia uma atitude quanto a empresas que desvalorizem nossa profissão.