domingo, 9 de outubro de 2011

O biólogo como consultor ambiental

Preciso confessar que, como biólogo, sei muito pouco sobre a carreira de consultoria ambiental. Sei que o biólogo pode muito mais do que fazer relatórios EIA/RIMA e levantamento de fauna, mas não sei dizer até onde podemos ir.

Tenho que assumir minha culpa nessa minha falta de conhecimento, mas acredito que a grande parcela dessa defasagem vem da minha formação: não tive nenhuma disciplina sobre esse assunto. E olha que fiz um dos cursos considerados entre os melhores do Brasil: Ciências Biológicas da UFSCar. Esse problema não é só dessa universidade: na grade de disciplinas do curso da USP, certamente um dos melhores do Brasil, de 38 disciplinas obrigatórias, não existe nenhuma sobre consultoria ambiental.

Mesmo sem entender muito dessa carreira, me atrevo a escrever sobre esse tema devido a duas constatações que fiz recentemente. A primeira foi em um site sobre empregos de consultoria ambiental onde das últimas 40 ofertas de empregos divulgadas pelo site NENHUMA era exclusiva para biólogos e apenas TRÊS podiam ser preenchidas por biólogos.

Assustador? A outra triste constatação veio de uma rápida procura na internet sobre empresas de consultoria ambiental e quais os cargos que biólogos ocupam dentro dessas empresas. De 13 empresas que eu consegui descobrir o quadro de funcionários apenas 20% dos funcionários (27 de 134 funcionários) eram biólogos. Essa porcentagem cai para menos de 9% (9 biólogos entre 108 funcionários) quando excluímos empresas que têm biólogos como diretores.

Nessa pesquisa outro dado que me pareceu importante foi que as empresas que têm biólogos como diretores (4 de 13 empresas) parecem ter um perfil diferente das outras quanto ao quadro de funcionário: enquanto que aquelas formadas ,principalmente, por engenheiro encontrei uma média de dez funcionários, empresas formadas por biólogos tem em média 6,5 funcionários. Mais do que isso três dessas últimas eram formadas apenas por três ou quatro biólogos, o que me pareceu muito mais uma “cooperativa” de consultores do que uma empresa.

É claro que esses dados não têm nenhum embasamento estatístico e embora não possa afirmar que esse quadro reflita o que realmente acontece nessas empresas, levando-se em conta a falta de conhecimento sobre essa carreira por conta do biólogo e a falta de oferta de empregos nessa área, acho que esses dados não estão muito longe da realidade.

Biólogos não estão preparados para entrarem num mercado de trabalho. A faculdade não os capacita para isso. Sem ter muitas informações sobre onde pode atuar o biólogo muitas vezes acaba “caindo” na área de consultoria por falta de opção: os principais empregos para biólogo é professor, pesquisador e consultor ambiental. Se você não se encaixa nas duas primeiras e se você não conhece outros campos de trabalho, vira consultor, ou tenta.

Tudo bem, qual faculdade que prepara realmente o profissional pro mercado? Poucas, mas na biologia isso é levado a um extremo. Aprendemos quase que exclusivamente a fazer ciência.

Essa falta de compreensão sobre o mercado de trabalho é muito evidente na área de consultoria ambiental onde competimos com outros profissionais que tem uma visão de mercado pelo menos um pouco melhor: engenheiros florestais, ambientais, agrônomos, químicos, geólogos, administradores. Aliás, a maioria dos funcionários das empresas que encontrei eram engenheiros, inclusive os diretores.

Biólogos deveriam representar muito mais que 10 ou 20% dos funcionários dessas empresas. Precisaria haver mais empresas, e maiores, formadas por biólogos. O entendimento que o biólogo tem sobre a complexidade dos processos ecológicos e a consequências de ações que interfiram nestes, é seu grande diferencial. Porém sua a cegueira sobre seu próprio potencial faz com que empresas também não o enxerguem seu valor.

Como falei no começo do texto, não conheço muito sobre essa profissão e peço desculpas aos biólogos consultores se eu estiver errado, mas infelizmente é assim que vejo essa carreira e acredito que essa visão não é só minha.

Conto também com a ajuda de vocês para divulgar um pouco mais sobre essa carreira.

2 comentários:

  1. Olá Felipe!
    Sou Karina, entrei na UFSCar em 2001, talvez se lembre de mim, andava muito com o Elliot e o Piteco...do seu “tempo”!!
    Vou te contar um pouco de minha própria experiência, pois trabalhei 3 anos como consultora.
    Saí do mercado de consultoria pois com meu bom trabalho e reputação achei que poderia aumentar minha hora ao longo do tempo. Mas o que aconteceu é que nos últimos tempos choveram ofertas de trabalho pagando valores humilhantes seguido de uma chuva de profissionais recém formados que aceitavam muito contentes estes trabalhos, inclusive emendado uma campanha de campo na outra. Ao arrebanhar consultores para minha empresa cheguei a receber mais de um e-mail me enviando curriculo e dizendo que trabalhariam de graça pela experiência. Obviamente um profissional como eu, consciente do meu valor e que não queria me vender por menos, perdi espaço.
    Imaginem que vocês são uma empresa que logicamente visa lucros. Porque iria filantropicamente pagar mais a um profissional que trabalharia até de graça? Estes somos nós biólogos, que ficamos gratos só pela oportunidade de conhecer a amazônia e nem olhamos para valores. Para que as empresas possam nos valorizar e para que o nosso conselho de classe seja minimamente funcional, a mudança tem que começar em cada biólogo.
    Fico a disposição para responder o que quiser se tiver interesse em escrever mais um tópico sobre o assunto ou sobre a atividade de ser sócia em empresa de consultoria ambiental. Atualmente passamos, por exemplo, por um dilema. Nossa empresa está com tudo Ok e dentro da lei. Isso faz com que tenhamos uma tributação muito alta. Mas tudo igual se as demais empresas concorrentes tivesses no mesmo pé. Mas recentemente descobri duas empresas de colegas meus que atuam em consultoria mas em seu contrato social constam como empresas de jardinagem ou paisagismo...categoria que paga uma % de imposto metade da minha...ou seja estou em uma concorrência desleal com empresas que correm o risco de serem pegas pelo crime de falsidade ideológica contra a ordem tributária. Resulta que não dá para competir com os preços bem menores destas empresas e hoje tenho que resolver se encerro a atividade ou se mudo meu contrato social e passo a correr o mesmo risco para poder trabalhar!
    Abço e parabéns pela iniciativa do blog!

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  2. Denúncia anômina na junta comercial do seu estado. O que fazer com quem se faz de esperto para TE prejudicar? Passar a mão na cabeça? Essa pessoas é sua amiga? É colega?

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