quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Os tipos de empresas de consultoria ambiental e os biólogos

Por Miguel Fontes de Souza

Apesar de ter experiência na área de consultoria ambiental, a minha visão sobre o mercado que envolve este negócio, bem como sobre o ambiente de trabalho das empresas deste ramo é restrita a uma vivência um tanto quanto incipiente. Digo isso não apenas pelo tempo de trabalho que tenho nesta área (aproximadamente 5 anos) mas, principalmente, pelo fato de tê-lo acumulado em apenas uma empresa. Portanto, deixo claro, antes de expor a minha visão sobre o assunto, que esta é restrita ao que vi no decorrer deste tempo, tanto na empresa que trabalho quanto nas empresas que tive contato.

Outra premissa que gostaria de deixar antes de entrar na minha ideia da coisa toda é que a consultoria ambiental, enquanto atividade profissional é tão ampla quanto a própria biologia, enquanto ciência. Num breve exercício de memória podem ser citados inúmeros compartimentos desta área, por exemplo, saneamento ambiental, levantamento de áreas contaminadas, levantamento de fauna/flora, entre outros tantos.

Acredito que existam dois modelos distintos de empresas de consultoria ambiental, cada um proporcionando um espaço distinto para o biólogo. O primeiro modelo seria uma empresa estritamente focada em um ramo específico desta grande área, tal qual o suporte às atividades de licenciamento ambiental, ou o controle de contaminação de solo etc. Estas empresas ocupam um nicho específico do mercado e necessitam, para tanto, contar com um corpo técnico especializado na linha de frente dos seus projetos. O foco nestas atividades específicas garante que este profissional especializado esteja alocado o tempo todo nas atividades da empresa, o que justifica o gasto que a empresa tem com os seus vencimentos (em geral, altos). 

No outro lado, estão aquelas empresas onde a consultoria ambiental se dá de acordo com a demanda do mercado. Normalmente, estas empresas se dedicam a garimpar diários oficiais em busca de processos licitatórios, especializadas em oferecer serviço ao governo, independente da esfera. Estas empresas, num dia, estão concorrendo por projetos de recursos hídricos, e noutro elaborando estudos de impactos ambientais de empreendimentos de naturezas diferentes. 

Nestas empresas, a necessidade por um profissional altamente especializado é pequena. A manutenção de, por exemplo, um biólogo com doutorado em qualidade da água se torna inviável, uma vez que o seu custo homem/hora é muito alto e nem sempre este recurso estará alocado nas atividades de rotina, tendo em vista que nem sempre estarão em curso os contratos pertinentes a esta área do conhecimento. A solução encontrada para estas empresas é manter profissionais pouco especializados e, quando houver a necessidade de uma expertise um pouco mais lapidada, lança-se mão do consultor propriamente dito. Este consultor é um profissional independente, altamente especializado e, geralmente, com peso acadêmico suficiente para respaldar a qualidade dos serviços que virão a ser prestados pela empresa.

A partir da constatação acima, e considerando o que foi dito no texto “O biólogo como consultor ambiental”, abro frente para outra discussão.
A graduação de biologia não só peca em preparar o aluno para encarar o mercado mas também forma profissionais tão generalistas quanto o conteúdo previsto na sua grade. O biólogo é um profundo conhecedor das generalidades embutidas nas diferentes expressões da vida e dos seus fenômenos. Mesmo aquele que se destacou durante o desenvolvimento do seu trabalho de conclusão de curso, não escapa de ser um limitado conhecedor daquilo que se propôs a estudar. O status de especialista só se justificará com a sua evolução acadêmica, a pós-graduação. Assim como o de consultor ambiental.

Neste sentido, tomo a liberdade de editar o texto mencionado, afirmando que o biólogo recém formado tem como opções de carreira a academia, a educação, o mercado de consultoria ambiental (e não a consultoria propriamente dita), além do setor público, carreira esta que eu considero nobre no que diz respeito ao peso que tem para o desenvolvimento do Estado.

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